Sem sinal

setembro 17, 2013



Era uma sexta-feira a noite. O céu estava limpo assim como a rodovia. Escolhemos viajar a noite pois o fluxo no trânsito estaria melhor. Era feriado. Cairia em um sábado. A viagem era longa, estava escuro e exigia atenção. Eu perderia o sinal do celular a qualquer momento.
Ele prometeu vir atrás de mim. Óbvio que ninguém sabia. Só eu. E não teria nenhum problema nisso. O problema era que ele não havia dado nenhuma confirmação e nenhum sinal de vida. E eu perderia o sinal do celular a qualquer momento. Sem comunicação.
Foi buscando pelas janelas do carro algum sinal dele na estrada - um ônibus, um carro, qualquer coisa, - que percebi a verdadeira escuridão. E vi, através do vidro traseiro, a escuridão que engole a clareza, os ângulos em que o olho humano pode enxergar, os pixels refletidos na câmera quando disparado o flash. A ausência da luz que engole o medo, a falsa cegueira, a incerteza. Engole tudo o que a gente deve deixar para trás. Deixa na superfície do estômago. E da enjoo.
Encontrei a luz assim que cheguei ao destino final da viagem. Sem sms, sem confirmação, sem sinal de vida. E deixei lá trás, junto com a escuridão, a dependência de ter outro alguém pra ser feliz. E vou ser feliz. Tenha luz ou não.

Foto: 500px/Mikko Largerstedt.

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